Aplicações Terapêuticas
Utilizadas para paralisar suas presas, as toxinas de Conus têm sido estudadas para diversas aplicações na medicina e são um exemplo da diversidade de alvos encontrada para os produtos de origem marinha e de sua selectividade. Estima-se que cada espécie contenha até 200 péptidos diferentes, biologicamente activos, que se ligam a canais iónicos dependentes da voltagem ou activados por ligantes externos[1].
Assim, como estes péptidos se encontram envolvidos numa grande variedade de diferentes funções fisiológicas, torna-se claro que possuem elevado potencial para funcionarem como compostos líderes no desenvolvimento de novos fármacos.
De acordo com o referido, alguns conopéptidos estão em fases clínicas de desenvolvimento[2].
Prialt® (ziconotídeo, ω-conotoxina MVIIA)
Figura 1. Prialt e sua respectiva estrutura[3],[4].
O ziconotídeo ou ω-conotoxina MVIIA (Prialt®) é um péptido analgésico de 25 aminoácidos isolado do molusco Conus magnus na década de 80. Tal como outros péptidos, o ziconotídeo é sintetizado a partir de aminoácidos naturais.
Apresentando selectividade em relação ao alvo molecular, o ziconotídeo bloqueia, em concentrações picomolares, o canal de cálcio do tipo N das fibras nociceptivas tipo A-δ e tipo C nas lâminas I e II da raiz dorsal do cordão nervoso de mamíferos, apresentando analgesia em vários modelos de nocicepção.
O extraordinário potencial antinociceptivo das ω-contoxinas (o ziconotídeo é mil vezes mais potente do que a morfina) emerge de duas propriedades:
· sensibilidade das fibras tipo C a essas substâncias;
· ausência de tolerância ao tratamento com esses péptidos. Em contraste com os opióides, que são agonistas de receptores acoplados à proteína G e levam à diminuição do número de receptores após tratamento continuado e à consequente dessensibilização, o tratamento com ziconotídeo não induz tolerância após uso crónico.
O primeiro teste clínico com ziconotídeo (Prialt®) em pacientes com dor severa teve início em 1995. Apenas em 2004 a agência norte-americana FDA (Food and Drug Administration) aprovou este fármaco de administração intratecal no controle da dor severa, incluindo pacientes refractários a tratamentos com opióides[1].
Bibliografia:
[1]. Becker S, Terlau H. Toxins from cone snails: properties, applications and biotechnological production. Appl Microbiol Biotechnol, 2008; 79:1–9.
[2]. Costa-Lotufo L, Wilke D, Jimenez P, Epifanio R. Organismos marinhos como fonte de novos fármacos: Histórico e perspectivas.Quim. Nova, 2009, Vol. 32, No. 3, 703-716.
[3]. https://www.popsci.com/scitech/article/2005-11/elan-prialt, acedido a 10-05-2011
[4]. https://www.3dchem.com/moremolecules.asp?ID=260&othername=Prialt, acedido a 10-05-2011